quinta-feira, 25 de março de 2010

Três Quartos - Delírios de noites febris

Quando se está gripado, muito gripado, e com sono, muito sono, é facil se perder em devaneios noturnos, confundir realidade com sonhos, ou delírios febris. Dormi ao lado de um livro, acordei com outro na cabeça. Talvez ter de ficar em casa, com dor por todo o corpo não tenha sido de todo ruim, afinal, uma ideia sempre é uma ideia, seja ela boa, ou ruim.

E eu tive uma ideia!
Pensei em meu quarto, em sua personalidade, nos seus cheiros e sentidos, e pasmem: descobri que ele é muito menos estático do que eu imaginava, e muito mais consciente de si do que muitos por aí. - Será esse outro delírio febril?

Sinceramente não sei, e justamente por não saber escrevo por aqui, pois o blog pode enfim servir de instrumento revelador da realidade, mesmo não sendo ela tão real assim.




Três Quartos - J.P.L.Campos

Um cheiro de papel com um leve toque de mofo. O ar pesado como se um manto de poeira milenar ali repousasse. Um aroma de criatividade e muito sono. Assim era o quarto.
O homem que ali entrou entrara por engano, procurava por outra porta dentre tantas iguais naquele cortiço imundo. Que exalava a morte.

Disfarçadamente ele a ia fechando, antes que alguém notasse o equívoco e em problemas o metesse, tudo ali era motivo para uma boa discussão. Como quando Dona Vera recolhera o lençol da Maria do varal em dia de chuva. Apesar do favor, Maria não poupou seus pulmões de idosa e pôs-se a gritar com a outra mulher, chamando-a de ladra, puta e invejosa. Maria não frequentara a escola, e tudo o que aprendera a dizer fora nas ruas daquela cidade tortuosa, marrom-acinzentada, cor de pedra, cor de vergonha.

O homem então deu um passo para trás, mas algo o puxava de volta para o cômodo. Alguma coisa ali o fazia diferente.
Poderia ser o cheiro de papel velho que em nenhum outro lugar podia se sentir, ou o delicado aroma de criatividade, ou ainda quem sabe as pilhas de livros do século XIX ao lado da cama.

Fosse o que fosse ele se sentiu atraído, preso por aquele lugar. Então vagarosamente empurrou a porta, agora a fraca luz do corredor inundava mais da metade do quarto; pé ante pé ele adentrou o recinto tomando cuidado com o ranger das tábuas soltas do soalho. Respirou profundamente aquele aroma novo, deliciou-se com diferentes sensações, olhou para um lado, para o outro, observou o relógio velho que carregava no pulso: quase três e meia da tarde. Olhou um pouco mais. E entrou.

O homem estava no quarto.

7 comentários:

  1. cadê a dona da casa minha gente?! rsrs
    é incrível como nós dizemos tanto de nós mesmos, conscientemente ou não, sem dizer uma palavra..

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  2. É, o blog serve para libertar a mente, expor idéias, sentimentos, sejam eles reais ou não. E isso é bom demais!

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  3. blog é uma ferramente muito util, quando utilizada desta forma! parabéns, belo comentário sobre o poema..
    e idem para o poema!

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  4. num faz mto meu estilo esse texto
    sucesso pro blog ae

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  5. Foi um sonho? Foi isto que entendi... Vc descreveu seu sonho?
    O texto é bom, poderia ser um pouco mais explicativo, mas vc escreve bem.
    Bjkas

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  6. seu blog ta muito bom
    to te seguindo...
    valeu a visita
    http://legaljunior.blogspot.com/

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